Caso reacende debate sobre fragilidade no controle do Judiciário e riscos da infiltração do crime organizado em instituições do Estado
Por Ana Raquel |GNEWSUSA
A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta terça-feira, a segunda fase da Operação Unha e Carne 2, que apura o suposto repasse de informações sigilosas de uma operação policial a integrantes do crime organizado, episódio que levanta questionamentos sobre a capacidade do Estado de proteger investigações sensíveis contra interferências internas. A ação foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e tem como um dos principais alvos o desembargador federal Macário Ramos Júdice Neto, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), relator do processo que envolve o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias.
Segundo a PF, a apuração busca esclarecer suspeitas de interferência institucional que teriam favorecido a facção criminosa Comando Vermelho (CV), com atuação no Rio de Janeiro, a partir do vazamento de dados protegidos por sigilo judicial, o que pode ter comprometido a eficácia de ações policiais e colocado agentes públicos em risco.
Mandados e medidas cautelares
Nesta etapa da operação, foram cumpridos um mandado de prisão preventiva — que resultou na prisão do desembargador Macário Ramos Júdice Neto em sua residência na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro — e dez mandados de busca e apreensão nos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. As ordens judiciais foram expedidas pelo STF no âmbito da ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas, que também determinou o aprofundamento de investigações sobre eventuais conexões entre facções criminosas e agentes públicos.
De acordo com investigadores, os indícios surgiram a partir da análise de aparelhos eletrônicos apreendidos na fase anterior, que apontaram para comunicações suspeitas e possíveis alertas antecipados a investigados, prática que, se confirmada, representa grave violação institucional e pode ter favorecido diretamente operadores ligados ao CV.
Processo sob sigilo e possível favorecimento
O desembargador Macário Ramos Júdice Neto é relator do processo que envolve o ex-deputado Thiego Raimundo dos Santos Silva (TH Joias), caso que tramita sob rigoroso sigilo judicial. A Polícia Federal apura se informações estratégicas teriam sido compartilhadas de forma indevida, minando operações policiais — incluindo a Operação Zargun, deflagrada em setembro e que resultou na prisão de TH Joias — e beneficiando diretamente investigados.
Também está sob análise a proximidade entre autoridades públicas e pessoas com interesse direto no andamento do processo, especialmente em momentos críticos que antecederam ações policiais, o que levanta suspeitas sobre conflitos éticos e falhas de controle interno. Entre os nomes que já foram alvos de medidas cautelares está o deputado estadual licenciado Rodrigo Bacellar (União Brasil), ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que também já havia sido preso na primeira fase da Unha e Carne.
Histórico funcional e questionamentos institucionais
O desembargador Macário Ramos Júdice Neto já havia sido afastado do Judiciário no passado, quando ainda atuava como juiz federal no Espírito Santo, após investigações relacionadas a suspeitas de venda de decisões judiciais em esquemas ligados a jogos ilegais.
Anos depois, o Tribunal Regional Federal determinou sua reintegração e promoção ao cargo de desembargador em 2023, fato que voltou a ser questionado diante das novas suspeitas. O caso reacende o debate sobre critérios de reintegração, promoção e fiscalização no Judiciário, além da efetividade dos mecanismos de controle disciplinar, especialmente em processos que envolvem o crime organizado.
Investigação segue em curso
A Polícia Federal informou que as investigações continuam em andamento e que novos desdobramentos não estão descartados. O caso segue parcial ou totalmente sob sigilo no STF, mas já provoca forte repercussão institucional ao expor riscos da infiltração criminosa em estruturas do Estado e reforçar a necessidade de transparência, rigor e responsabilização.
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