Paciente com ELA volta a se comunicar com a própria voz graças a chip cerebral inovador

Foto: BCI screen
Tecnologia desenvolvida pela Universidade da Califórnia em Davis utiliza inteligência artificial para reconstruir voz de paciente paralisado. Estudo foi publicado na revista científica “Nature”.
Por Paloma de Sá |GNEWSUSA

Um avanço revolucionário na área da neurotecnologia está abrindo novas perspectivas para pacientes com doenças neuromusculares graves. Pela primeira vez, um paciente com esclerose lateral amiotrófica (ELA) conseguiu se comunicar por meio de uma versão digital da sua própria voz, graças a um chip cerebral implantado por cientistas da Universidade da Califórnia em Davis (UC Davis). A pesquisa, que representa um marco no campo das interfaces cérebro-máquina, foi publicada na prestigiada revista científica Nature em agosto de 2023.

O estudo foi conduzido por uma equipe liderada pelo neurocirurgião Dr. David Brandman, em colaboração com o cientista de dados Dr. Gopala Anumanchipalli, e demonstrou que é possível decodificar em tempo real os sinais cerebrais relacionados à fala e transformá-los em voz audível, com entonação, ritmo e timbre fiéis ao do paciente antes da perda da fala.

Como funciona a tecnologia?

O sistema utiliza quatro matrizes de microeletrodos implantadas diretamente no giro pré-central do cérebro, área responsável pela produção da fala. Esses eletrodos captam os impulsos elétricos de centenas de neurônios simultaneamente. Os dados são processados por uma inteligência artificial treinada com gravações anteriores da voz real do paciente, feitas antes que a ELA comprometesse sua capacidade de falar.

Diferentemente de sistemas anteriores que apenas transformavam pensamentos em texto, essa nova tecnologia reconstrói o som da fala em tempo real — com melodia, pausas naturais e até emoção, tornando a comunicação mais humanizada.

Durante os testes, ouvintes externos conseguiram entender cerca de 60% das palavras emitidas pelo sistema, um progresso significativo se comparado aos cerca de 4% de compreensão obtidos com tecnologias anteriores.

“Ajudamos um homem paralisado a se comunicar com uma versão sintética da própria voz. Isso representa não apenas um avanço técnico, mas uma transformação profunda na qualidade de vida dessas pessoas”, afirmou o Dr. Brandman à Nature.

O impacto para pessoas com paralisia

A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa progressiva que afeta os neurônios motores e, eventualmente, compromete a capacidade de andar, falar, engolir e até respirar. Para muitos pacientes, perder a voz é uma das perdas mais impactantes. O sistema desenvolvido em Davis devolve parte dessa autonomia, permitindo que pensamentos sejam traduzidos diretamente em som, sem a necessidade de telas ou movimentos físicos.

Além disso, o uso da voz real do paciente — preservada em gravações anteriores — proporciona um vínculo emocional ainda mais forte, tanto para o paciente quanto para seus familiares.

Desafios e próximos passos

Apesar do sucesso inicial, o sistema ainda está em fase experimental. O sistema foi testado em apenas um paciente, e os pesquisadores reconhecem a necessidade de melhorias em precisão, miniaturização e facilidade de uso.

O próximo passo é ampliar os testes com outros voluntários, além de buscar a aprovação de agências reguladoras como a FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA). Outro desafio é adaptar o sistema para que possa ser usado fora do ambiente clínico, com mais praticidade e segurança.

Corrida pela neurotecnologia

A pesquisa da UC Davis faz parte de um cenário mais amplo de avanços em interfaces cérebro-máquina (BCI). Empresas como a Neuralink, de Elon Musk, e a Synchron, que também atua com implantes cerebrais menos invasivos, estão desenvolvendo tecnologias para permitir que pacientes paralisados controlem computadores, robôs e outros dispositivos apenas com o pensamento.

Segundo o próprio site da Nature e reportagens do MIT Technology Review, essa corrida tecnológica tem potencial para transformar profundamente a vida de milhões de pessoas com deficiência, desde comunicação até mobilidade.

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