Estudo realizado por pesquisadores da Fiocruz documenta transmissão de mãe para filho, resultando em morte fetal no Ceará; descoberta evidencia a gravidade da doença em gestantes e fetos.
Por Paloma de Sá| GNEWSUSA
Um estudo colaborativo envolvendo cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirmou o terceiro caso de transmissão vertical do vírus oropouche no Brasil, quando a infecção é passada da mãe para o bebê durante a gestação. O episódio ocorreu no estado do Ceará e resultou na morte do feto em agosto de 2024. As descobertas foram publicadas na prestigiada revista científica New England Journal of Medicine no dia 30 de outubro e divulgadas pela Fiocruz em 6 de novembro.
A transmissão vertical do oropouche é um fenômeno raro, mas alarmante, pois evidencia a capacidade do vírus de causar complicações graves, inclusive a morte fetal, como destacou o virologista Felipe Naveca, chefe do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). “Esse é mais um estudo que evidencia que o vírus oropouche é capaz de fazer infecção vertical. O mecanismo como isso acontece ainda é desconhecido, mas já existem evidências robustas de que o oropouche pode causar danos severos em fetos”, explicou Naveca.
O Caso Confirmado no Ceará
O caso mais recente envolveu uma gestante na 30ª semana de gravidez, que apresentou sintomas típicos da febre oropouche, como febre alta, dores no corpo e cefaleia, em julho de 2024. Apesar de receber cuidados médicos, exames realizados no mês seguinte confirmaram a morte fetal. Após o óbito, amostras foram coletadas e analisadas, confirmando a presença do vírus no cérebro, pulmão e fígado do feto, além do cordão umbilical, placenta e líquido cefalorraquidiano. Exames de sangue também comprovaram que a mãe estava infectada.
O sequenciamento genético realizado pelos pesquisadores revelou que o vírus identificado pertence à linhagem OROVBR_2015-2024, associada ao recente aumento de casos no Brasil e em outros países da América Latina, como Bolívia, Colômbia, Peru e Cuba, além de registros esporádicos nos Estados Unidos e Europa.
A Expansão da Febre Oropouche no Brasil e no Mundo
A febre oropouche é uma doença causada por um arbovírus transmitido, principalmente, pelo mosquito Culicoides paraenses, conhecido popularmente como maruim ou mosquito-pólvora. Embora sua transmissão fosse inicialmente limitada à região amazônica, a doença tem se espalhado rapidamente para outras regiões do Brasil. Em 2024, o Ministério da Saúde reportou cerca de 8,2 mil casos de febre oropouche no país, com um aumento preocupante nas regiões Nordeste e Centro-Oeste.
Além dos três casos confirmados de transmissão vertical — dois anteriores nos estados de Pernambuco e Acre —, outros 20 casos suspeitos estão sob investigação. Em Pernambuco, a infecção resultou em morte fetal, enquanto no Acre, o vírus foi associado a anomalias congênitas.
Gravidade e Perspectivas para o Controle da Doença
Os pesquisadores envolvidos no estudo ressaltam a urgência em aprofundar o conhecimento sobre a febre oropouche e suas complicações. “A análise desses genomas mostrou que o vírus pertence à linhagem que emergiu na Região Norte, se espalhou pelo Brasil e chegou a diferentes países, como Bolívia, Cuba, Estados Unidos e Itália”, afirmou Felipe Naveca. Essa disseminação geográfica reforça a necessidade de ações coordenadas para conter a doença, que até agora não possui vacina disponível.
Além de causar febre, dores intensas e exantema, o oropouche pode levar a complicações graves em gestantes, como mostra este recente caso no Ceará. A confirmação de que o vírus pode atravessar a barreira placentária e infectar o feto eleva o nível de alerta para as autoridades de saúde, especialmente em regiões onde o mosquito transmissor está presente.
Próximos Passos: Vigilância e Pesquisa
Os resultados desse estudo ampliam a compreensão sobre a transmissão vertical do vírus oropouche e abrem caminho para novas pesquisas sobre a doença. Segundo os especialistas, é essencial fortalecer as medidas de vigilância epidemiológica e investir em estudos para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos eficazes.
A Fiocruz, em colaboração com outras instituições de pesquisa e autoridades sanitárias, continuará monitorando a situação para prevenir novos casos e mitigar os efeitos da febre oropouche no Brasil e em outros países afetados.
Com os recentes avanços nas pesquisas, espera-se que novas estratégias de prevenção e controle sejam implementadas para proteger populações vulneráveis, especialmente gestantes e crianças, contra os impactos devastadores desse vírus emergente.
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