
Nova tecnologia, mais precisa e com maior intervalo entre coletas, começa a ser implementada em Pernambuco e será expandida gradualmente até 2026.
Por Paloma de Sá |GNEWSUSA
A partir do próximo mês, o Sistema Único de Saúde (SUS) começará a substituir gradualmente o exame Papanicolau pelo teste molecular de DNA RT-PCR, uma nova tecnologia que promete mais precisão na detecção do papilomavírus humano (HPV), principal responsável pelo câncer de colo do útero.
A implementação do novo exame terá início no estado de Pernambuco, com a meta de alcançar cerca de 435 mil mulheres ao longo de um ano. O objetivo é aprimorar o rastreamento da infecção pelo HPV, que é uma das principais causas de mortalidade entre as mulheres brasileiras.
Expansão nacional até 2026
O Ministério da Saúde informou que outros estados, como Minas Gerais, também já manifestaram interesse em adotar a nova metodologia nesta fase inicial. A ampliação do uso do teste de DNA será feita de forma gradual por todo o país ao longo de 2025 e 2026. Durante esse período, as equipes de saúde passarão por treinamentos e capacitações para garantir uma transição segura e eficiente.
O novo exame é realizado a partir de um kit desenvolvido com tecnologia 100% brasileira, o Kit Biomol HPV Alto Risco, produzido pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP). Atualmente, ele está em fase final de validação clínica no Instituto Nacional do Câncer (Inca), e já recebeu registro oficial da Anvisa (nº 80780040020).
Maior precisão e intervalo entre exames
Uma das grandes vantagens do novo teste é a alta sensibilidade, com 97% de precisão na identificação dos subtipos do HPV considerados de alto risco para o desenvolvimento de câncer. Com isso, o intervalo entre os exames será ampliado de três para cinco anos — o que representa menos coletas ao longo da vida da paciente, mas com maior segurança.
Diferente do Papanicolau, que identifica apenas alterações celulares já presentes, o exame de DNA consegue detectar o vírus antes mesmo que ele cause qualquer dano ao organismo. Além disso, o mesmo material coletado para o teste molecular pode ser reaproveitado para análise citológica em caso de necessidade, evitando uma nova coleta.
Benefícios a longo prazo
Embora o custo do teste de DNA seja mais alto que o Papanicolau, especialistas indicam que ele pode ser mais econômico a longo prazo, uma vez que reduz a frequência de exames e permite diagnóstico precoce. Estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelou que o método é capaz de identificar o HPV cancerígeno com até dez anos de antecedência, aumentando significativamente as chances de tratamento precoce e menos invasivo, evitando o uso de terapias complexas como radioterapia e quimioterapia.
Para a médica Luisa Lina Villa, pesquisadora do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e professora da Faculdade de Medicina da USP, a mudança é parte de uma tendência internacional. “Esse teste permite verificar a presença do vírus, e não apenas alterações nas células, como faz o Papanicolau”, explicou em nota divulgada pelo Ministério da Saúde.
Desafios da implementação
Apesar das vantagens, a adoção do novo método apresenta desafios. O Conselho Federal de Medicina (CFM) reconhece o potencial da nova ferramenta, mas destaca dificuldades logísticas, como a dimensão continental do país e as desigualdades regionais no acesso à saúde.
O ginecologista Ademar Augusto, que coordena a Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia do CFM, afirma que a substituição deve ser bem planejada e acompanhada de uma transição segura. Segundo ele, o ideal seria combinar os dois métodos — o tradicional e o molecular — enquanto se estrutura a adoção definitiva da nova tecnologia.
Quem poderá fazer o novo exame?
O teste de DNA será destinado inicialmente a mulheres entre 25 e 49 anos, faixa etária com maior risco para o desenvolvimento de lesões causadas pelo HPV. O exame consegue identificar 14 genótipos do vírus, incluindo os tipos 16 e 18, responsáveis por cerca de 70% dos casos de lesões pré-cancerosas.
Estudos mostram que mais da metade das brasileiras com vida sexual ativa (54,4%) já tiveram contato com o HPV, e o vírus também afeta 41,6% dos homens. Embora nem todos os casos evoluam para o câncer, a presença do HPV é um alerta para riscos futuros.
Vacina e meta global de erradicação
O novo exame faz parte de um conjunto de ações do Ministério da Saúde para eliminar o câncer de colo do útero, em alinhamento com as metas da Organização Mundial da Saúde (OMS). A estratégia inclui também a vacinação gratuita contra o HPV, que está disponível para jovens de 9 a 14 anos, em dose única na rede pública.
O Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE) já iniciou a adoção do teste molecular nos casos suspeitos de HPV e planeja expandir seu uso até o fim deste ano. A expectativa é de que, com a nova tecnologia e a vacinação em massa, o Brasil avance significativamente na prevenção do câncer de colo do útero até 2030.
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