
Após cortes orçamentários da NASA, China e Rússia anunciam intenção de construir usina de energia na Lua, para abastecer nova base lunar.
Por Tatiane Martinelli | GNEWSUSA
Em um movimento que marca um novo capítulo na corrida espacial do século XXI, Rússia e China firmaram um acordo para construir um reator nuclear na Lua, com o objetivo de abastecer a futura Estação Lunar Internacional de Pesquisa (ILRS, na sigla em inglês). A estação, liderada pelas duas nações, tem previsão de conclusão até 2046, conforme estipulado em um memorando de cooperação bilateral.
O anúncio ocorre em um momento estratégico: pouco após a NASA apresentar sua proposta de orçamento para 2026, que prevê cortes significativos em seus programas voltados à construção de uma base lunar. A prioridade da agência americana, segundo o novo plano, será redirecionada para a exploração de Marte.
Segundo Yury Borisov, diretor-geral da agência espacial russa Roscosmos, a construção do reator nuclear sino-russo será realizada de forma autônoma, sem necessidade de presença humana no processo. No entanto, os detalhes técnicos da missão ainda não foram divulgados.
Em nota publicada no dia 8 de maio, a Roscosmos destacou que a ILRS terá como missão realizar pesquisas científicas fundamentais e testar tecnologias para operações não tripuladas de longa duração, preparando o terreno para futuras missões humanas na Lua.
O ambicioso projeto já atraiu o interesse de 17 países, entre eles Egito, Paquistão, Venezuela, Tailândia e África do Sul, conforme destacou o site Live Science. A instalação da base lunar começará com a missão chinesa Chang’e-8, programada para 2028 — ocasião em que a China pretende levar um astronauta à superfície lunar pela primeira vez.
O plano para a ILRS foi anunciado inicialmente em junho de 2021 e prevê cinco lançamentos de foguetes superpesados entre 2030 e 2035, responsáveis por transportar os módulos iniciais da base. Após a instalação dos componentes principais, a China planeja realizar novos lançamentos para expandir a infraestrutura e conectá-la a uma estação espacial em órbita lunar, como detalhou Wu Tanhua, projetista-chefe do programa chinês de exploração espacial.
A fase final da construção está prevista para 2050 e contará com sistemas de geração de energia solar, radioisotópica e nuclear. A base também deverá abrigar redes de comunicação de alta velocidade entre a Terra e a Lua, além de veículos especializados, como rovers pressurizados, não pressurizados e até um “hopper” — veículo capaz de realizar saltos pela superfície lunar.
A nova disputa pelo domínio lunar
O avanço da parceria entre China e Rússia ocorre em meio à crescente ambição do programa espacial chinês, que desde o pouso da missão Chang’e-3 em 2013, já colocou diversos rovers na Lua, coletou amostras e mapeou grandes áreas do solo lunar.
Do outro lado, os Estados Unidos seguem com seu projeto Artemis, que pretende levar astronautas de volta à Lua pela primeira vez em mais de meio século. O Artemis III, planejado para 2027, representa um marco nessa trajetória. No entanto, a recente proposta orçamentária do governo Trump, com cortes nas missões lunares e maior foco em Marte, levanta dúvidas sobre a viabilidade do cronograma.
Outra iniciativa americana sob risco é a estação espacial lunar Gateway, originalmente planejada para lançamento em 2027. Com os novos cortes, sua execução pode ser comprometida.
Enquanto os EUA reavaliam prioridades, Rússia e China avançam em um projeto robusto e de longo prazo, que promete não apenas estabelecer presença permanente na Lua, mas também abrir caminho para futuras missões tripuladas a Marte. A nova corrida espacial está oficialmente em curso — e o polo sul lunar pode ser seu primeiro campo de disputa.
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